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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Aula V – Prática de Aconselhamento

Cuidando de quem cuida

Um olhar de cuidados aos que ministram a Palavra de Deus

Roseli M. Kuhnrich de Oliveira

A categoria cuidado como possibilidade de diálogo entre a teologia e a psicologia.

Em virtude das delimitações próprias de cada ciência, das correntes diferenciadas de interpretação do próprio objeto ou sujeito de estudo a possibilidade de um dialogo entre a teologia e a psicologia se torna desafiante e instigante, ao mesmo tempo demanda um conhecimento mais apurado em cada uma destas áreas, para se obter um juízo de valor, os seus significados e a importância para o cuidado de quem cuida.

“Barth define a teologia como” uma ciência particular, um empreendimento humano”, podendo assim se “conectar” com a psicologia que por definição é o estudo da psique humana. Por influência do iluminismo, a teologia se afasta um pouco da igreja, se torna puramente acadêmica, desvia-se da sua própria vocação, contudo, surge a teologia prática, que faz esse resgate: “estabelecer uma relação adequada entre a teologia acadêmica e a prática da fé”. A teologia prática é uma “reflexão critica e construtiva sobre a vida e ministério da Igreja, com enfoque especial sobre a formação e a transformação”.

Para Schipani, o aconselhamento pastoral é um ministério distinto e mais amplo do cuidado pastoral, que deve ser reconsiderado a partir de uma perspectiva teológica e não somente clinica.

É possível conciliar duas abordagens distintas, a da teologia e a da psicologia? A teologia prática, tenta responder essa questão – principalmente no âmbito do aconselhamento ou psicologia pastoral.

O avanço da psicologia como atividade especializada na resolução dos conflitos emocionais, a desconfiança por esta ser considerada “atéia” e por outro o “culto a ciência” e o encaminhamento ao atendimento puramente profissional, permitiu que fosse questionado o valor do cuidado pastoral. Contudo, busca-se hoje uma visão integral do ser humano para assim se estabelecer um dialogo interdisciplinar.

Para um dos pais da psicologia pastoral Anton Boisen, após ser diagnosticado como esquizofrênico, ser internado até superar essa crise, ficou evidente a necessidade de um cuidado que abrangesse a fé e a psicologia.

“A imagem do terapeuta ferido simboliza uma aguda e dolorosa consciência da doença, psicologicamente isso significa não só que o paciente tem um médico dentro dele, mas também que há um paciente no médico”. No fundo, o próprio sofrimento é a fonte de um poder curativo e este poder é o processo criativo, por esta razão só um homem ferido pode curar, pode ser um médico. (Adolfo Guggenbuhi-Craig. O abuso do poder na psicoterapia, p.98,99 e 103)

Adolfo Guggenbuhi-Craig, ao relacionar o mito do sarador ferido com Jesus Cristo enfatizou: “Quem melhor do que ele expressa o “terapeuta ferido”? Ele curava não só as doenças da psique, mas também os males existenciais do pecado e da morte”.

Henri Nouwen, ao escrever sobre o sarador ferido, apresenta um novo paradigma para os cuidadores: “Por meio de nossas próprias feridas, podemos nos tornar fonte de vida para o outro”.

Nesse sentido a psicologia pastoral é uma tentativa de ministrar cuidados, entendendo a pessoa de forma integral, utilizando para isto os conhecimentos adquiridos tanto na psicologia quanto na teologia prática (acrescento a antropologia como uma ferramenta de grande valoração nesse campo de ajuda).

Para Sidnei Vilmar Noé: “O caminho que parece ser o mais adequado é o de uma integração crítica dos diferentes acentos, a partir do desenvolvimento de uma visão própria do ser humano, sob o aspecto teológico, psicológico e social”.

Com isso, as questões existenciais e de fé são contempladas, integrando o mesmo sistema que orienta o pensar e o agir do ser humano. É preciso estar atento para o fato de que um desarranjo numa das dimensões, por uma situação de crise, irá refletir nas demais dimensões.

A psicologia pastoral busca ser uma ferramenta útil, uma tentativa de ministrar cuidados, entendendo a pessoa de forma integral, utilizando para isto os conhecimentos adquiridos tanto na psicologia quanto na teologia prática.

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